Atualmente está muito em moda
essa história de pós-modernidade. Segundo os entendidos no assunto, a
modernidade foi à era dos grandes avanços tecnológicos, sociais e políticos, e
já passou. Agora estamos no tempo da pós-modernidade, em que estes avanços
estão sendo questionados, pois produziram também poluição, destruição pela
guerra, injustiças sociais, etc.; e, por outro lado, estes mesmos avanços
produziram uma tendência ao individualismo e à indiferença no ser humano.
Nesse ambiente pós-moderno, o Natal
tornou-se um evento de mercado, uma oportunidade de negócios, que explora
justamente o individualismo consumista e utilitário vigente. A referência ao
Natal se faz pela necessidade, falsamente criada, de obter bens os mais
variados. Na maior parte são coisas supérfluas, adquiridas com dívidas, muitas
vezes em detrimento de coisas mais importantes, como o pagamento do aluguel e
outras despesas sérias.
Pelo correio chegam cartões de
empresas de comércio e serviços, instituições financeiras, políticos, etc., que
nem sabem quem você é; só têm o seu nome num cadastro. Tais cartões geralmente
trazem mensagens bonitas, mas quase sempre vazias de sentido, porque nos são
estranhas. Não são palavras autênticas, são palavras compradas numa papelaria
qualquer.
A referência ao Natal se faz
também por mencionar sentimentos vagos de amor, paz, harmonia e alegria, e por
falar de um deus distante. Nem tais sentimentos nem tal deus têm muito a ver
com a verdadeira pessoa que deles fala, a qual, se vista na intimidade, mostra,
na verdade, egoísmo, indiferença e até aversão pelos outros.
Já reparou na facilidade com que
as pessoas fazem votos de felicidade nesta época? No trabalho, o sujeito acha o
colega insuportável, mas na véspera do Natal estende-lhe a mão e lhe deseja um
sonoro “Feliz Natal”. Na família, o irmão está sem falar com a irmã há 3
meses, mas fazem uma trégua no Natal, trocam presentes e cartões belíssimos,
passam algumas horas juntos, e depois voltam a brigar.
A referência ao Natal se faz
ainda por uma comemoração sem muito sentido. Comemora-se por comemorar, como no
filme americano em que um milionário solitário aluga uma família por 250 mil
dólares, para ter com quem passar o natal. Jesus tornou-se uma “antiga lenda”
de um menino pobre num presépio, e só. Em meio ao luxo das roupas, ao brilho
das árvores luzentes, à indispensável troca de presentes, à abundância de
comida e bebida, quase ninguém se lembra de que lá na estrebaria, meio escura,
Jesus e seus pais tinham bem pouco que comer ou que vestir.
Creio que a maioria das pessoas
faz isto apenas porque acha ser um costume ou um dever social. E creio, também,
que uma boa parte sente-se constrangida ao fazê-lo.
Pois eu quero propor algo
diferente neste próximo Natal!
Não, não quero acabar com as
felicitações, com os cartões, com as comemorações. Quero propor é o fim da
hipocrisia.
Explico: gostaria que todo mundo,
antes de fazer seus votos de feliz natal e ano novo, meditasse neste ensino do
chamado “apóstolo do amor”: “Filhinhos, não
amemos de palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade.” (I
João 3:18).
Greville P. Lewis, citado por
John Stott, disse o seguinte: ”É mais fácil ser entusiástico com a Humanidade, com H
maiúsculo, do que amar homens e mulheres individuais, especialmente os
desinteressantes, os que nos enervam, os depravados ou os que de alguma forma
nos causem repulsa. Amar toda a gente em geral pode ser uma boa desculpa para
não amar ninguém em particular”.
Em um mundo de tanta
superficialidade, a igreja do Cristo do Natal tem o dever de chamar o povo para
voltar a um entendimento, nunca ultrapassado, de que este é um tempo de humilde
adoração ao Deus-homem que se entregou por nós, para que não vivêssemos mais
para nós próprios, mas para Deus e para os outros.
Portanto, neste Natal, proponho
fazer o que Jesus faria, se estivesse em nosso lugar: agir sempre impulsionado
pelo amor.
Em Cristo Jesus
Pr. Capelão Edmundo Mendes Silva