Estamos em quarentena e isolados em nossa casa. O que começou com algumas adaptações temporárias se tornou o “novo normal”. Saídas reduzidas, aniversários canc
elados, reuniões sem o gostoso abraço... De modo especial, fico atencioso aos com os cultos virtuais, reuniões de grupo via telinha, discipulados por aplicativos etc. No entanto, o que realmente importa é como fica nossa caminhada com Deus. De que modo temos vivido e cultivado nossa espiritualidade?Alguns pastores – de várias
denominações – entraram em pânico, como se o culto presencial fosse a essência
do que cremos ser a igreja. Parecia que sem culto os crentes iriam se desviar,
a igreja iria morrer. No entanto, muitas igrejas mais saudáveis procuraram
soluções mais sérias e enraizadas em suas convicções. Compreendendo que somos
igreja com ou sem cultos, procuraram maneiras de manter seu povo conectado e de
alimentar o rebanho de forma virtual. Algumas igrejas que acompanho de perto
começaram a “todo vapor”, fazendo cultos e “lives” diárias. O ritmo era intenso
e parecia que um dia fora do ar e a igreja estava perdida. A maioria destas
igrejas já encontrou um ritmo mais sustentável, uma dieta de alimentação
espiritual que seja sustentável.
Minha pergunta mais profunda é: como
ficam os cristãos? Como nós ficamos diante desta situação? Minha comunhão com
Deus realmente não depende de cultos ou eventos, ou será que depende? Por um lado, afirmamos uma fé
que, como disse Jesus em João
4.23-24, é em espírito e em verdade, não sendo
restrita a locais ou edifícios. Por outro, defendemos o que a Palavra nos
ensina em Hebreus 10.25: Não deixemos de
reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos
encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o
Dia.
Pessoalmente eu sinto falta do culto público e
tenho buscado refletir do que eu sinto falta. Confesso que não é das mensagens,
já que continuamos tendo acesso a elas, ainda que virtualmente. Não sinto tanta
falta do período do louvor cantado, em parte pois sou beneficiado como todos de
ouvir os louvores por meio da música. Sinto falta de gente, sinto falta de estar com os irmãos. Não
que eu fale com todos, mas o fato de estar num evento com o propósito de me
aproximar de Deus em comunidade tem um impacto diferente em mim. Em parte, é o
fato do estímulo de ver outros buscando a Deus comigo. Por outro, é a alegria
de participar de algo maior do que eu mesmo.
As palavras de Paulo em Colossenses 1.28 me vêm à
mente: Nós o proclamamos, advertindo e ensinando a
cada um com toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo.
As três palavras não estão ali por acaso. Paulo afirma que proclamamos Jesus advertindo e ensinando. A palavra “proclamar” é a base do que Paulo se propõe a fazer. “Advertir” e “ensinar” descrevem como isso é feito. Advertir pode ser traduzido por “colocar na mente”, no sentido de apresentar a verdade de forma clara e direta; traz um sentido de confrontação, mas uma confrontação gentil, uma correção branda. A palavra ensinar é bastante direta. Ensino aqui tem o caráter de uma apresentação clara e direta da verdade.
Mas por que precisamos de advertência
e ensino? Não bastaria apenas o ensino? Certamente há um sentido para nós nesta
advertência... Nosso coração em geral resiste ao ensino. Não
buscamos a Deus naturalmente. Nossa inclinação é acharmos autossuficiência. Por isso Deus permite tragédias
e dias difíceis. Nestes dias somos levados a buscá-lo, pois não encontramos
recursos em nós mesmos.
Eu entendo que este é um dos papéis da comunidade, da igreja. Não é controlar (bem sabemos que não conseguimos controlar...), mas estimular (Hebreus 10.24 “e consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras”), encorajar, animar. O fato de estarmos com outros cristãos que buscam a Deus tem um efeito de nos fazer focar nele, de nos fazer buscá-lo com mais intensidade.
O grande perigo da quarentena é que podemos esfriar por falta do estímulo da igreja reunida.
É aí justamente que
está um dos maiores perigos desta quarentena. Não é que ficaremos sem alimento
espiritual. (A grande maioria das igrejas têm conseguido formas de transmitir a
seus membros.) Não é estarmos impedidos de cultuar em nossos salões. (Nosso
Deus pode ser cultuado em qualquer lugar.) O grande perigo da quarentena é que
podemos esfriar por falta do estímulo da igreja reunida. Por isso Paulo afirma
que ele proclama a Cristo tanto falando a verdade como advertindo os irmãos.
Eu quero, em nome de
Jesus, e com muito temor e tremor, adverti-lo a que continue buscando a Deus.
Não permita que o isolamento, a distância dos irmãos, o faça esfriar em sua
busca por Deus. Ore, estude a Palavra, celebre em família (que contexto
melhor?). Busque contato mesmo que virtual com irmãos, compartilhe o que tem
aprendido, o que Deus tem lhe falado... Não permita que esta circunstância
difícil, mas temporária, enfraqueça sua fé!